segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Sex & City


Costumo dizer frequentemente que é uma série "para mulheres", que tbm devia ser vista por Homens. A série é o máximo, divertida, "fashion", "futurista", cómica, hilariante, cheia de gente bonita ... é fantástica.
Para mulheres de todas as idades, feitios, virtudes e defeitos, pois não é possivel assistir aos episódios sem nos identificarmos pelo menos com uma das personagens ou com uma situação.
Genial a forma como foi escrita e espectacularmente interpretada por quatro senhoras maravilhosas: Sarah Jessica Parker (tbm Produtora), Kim Cattrall, Kristin Davis, Cynthia Nixon.
Acredito que se os Homens que se questionam sobre o universo femenino virem a série, ficariam bastante esclarecidos.

Parabéns Sargento Luis Gomes

O nosso sargento do Exército, general da guerra em defesa do amor, foi confrontado com a brutalidade da lei (...). É um filme de terror.

Aquilo que se passou no Tribunal de Torres Novas com a sentença formidável que atira para a cadeia um pai que sacrifica tudo, honra, liberdade, carreira, para salvar a filha remete-nos para o terrível contraste entre o mundo das leis e o universo dos sentimentos.Diga-se, desde já, que é possível que a decisão do tribunal seja formalmente justa. O crime de sequestro é grave e deve ser exemplarmente castigado. O erro monumental tem, por isso, roupeta judiciária correcta mas não deixa de ser um acto da mais pura desumanidade que só tem paralelo com a violência dos actos mais brutais cometidos pelos homens. E por entendimentos da vida que estão bem longe de ser a vida. Logo a partir dessa barbaridade que é o reconhecimento do papel de pai biológico. É um conceito que serve apenas para deturpar a verdade. Um indivíduo deu um espermatozóide dos muitos milhões que produz a uma mulher e fez uma criança. Isto é ser pai? O acto mais fácil, mas seguramente aquele que dá menos trabalho e, de certeza, menos prazer no que respeita ao nascimento, crescimento e educação de uma criança é legitimador de reivindicações canalhas? Numa sociedade justa, numa sociedade que acredita no valor da vida, dos afectos, da liberdade, ninguém pode ser reconhecido como pai se, por alguma vez, um dia que seja, ignorar as necessidades, o amor, o carinho que resulta das suas obrigações e devoções para com a criança que lhe aprende a voz, lhe reconhece os braços, que espera a sua ternura e ajuda. Ao contrário da maioria dos animais, o ser humano não tem vida autónoma após o nascimento. Não anda, não acompanha, não fala, não pensa. É mesmo capaz de ser o único ser vivo mais impreparado e que precisa de cuidado constante dos pais para crescer equilibrado, aprender a vida de forma adequada, reconhecer o amor através daqueles que dia após dia, noite após noite, lhe mudam as fraldas e dão de comer. Que lhe dão banho e o aconchegam no berço. Que o levam a passear e lhe ensinam os primeiros sinais da alegria de viver. As cores, os odores, os sons. E o embalam, lhe sorriem e abraçam. Não pode ser chamado pai a quem se desobrigou deste movimento de actos transcendentes e estruturalmente paternos.O nosso sargento do Exército, general da guerra em defesa do amor, foi confrontado com a brutalidade da lei que não conhece a força poderosa da dedicação a outro ser humano e, para indignação de todos nós, o trata como criminoso, encerra-o na cadeia e coloca a polícia à caça da mãe. É um filme de terror. O tipo que deu o espermatozóide há anos e ignorou os seus fundamentais deveres de paternidade é o protegido neste caso de vómito. Quando as leis caucionam a possibilidade de serem criadas situações como esta isto é um vómito. E só os cínicos podem omitir-se daquilo que está a acontecer. Os cínicos e o pior que esta sociedade produz quando se fala de direitos, de humanização, de solidariedade. E de amor. Desde o Presidente da República, passando pelo Governo, pela Assembleia da República, pelos tribunais, todos!, têm de agir e são responsáveis por esta vergonha. Se lhe perdoarmos os silêncios, se formos tolerantes com as convenientes omissões e falta de acção jamais podemos reconhecer na nossa falta de solidariedade com estes pais a nossa própria dimensão humana para a paternidade. É tempo de reaprender Salomão.

Francisco Moita Flores, Professor universitário

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Falar mal com estilo

Falar mal mas com estilo
Deglutir o batráquio.

Engolir o sapo.

Colocar o prolongamento caudal no meio dos membros inferiores.
Meter o rabo entre as pernas.

Sequer considerar a possibilidade da fêmea bovina expirar fortes contrações laringo-bucais.
Nem que a vaca tussa.

Retirar o filhote de equino da perturbação pluviométrica.
Tirar o cavalinho da chuva.

Sugiro veementemente a Vossa Excelência que procure receber contribuições inusitadas na cavidade rectal!
Vai levar no cu!

in, my mailbox

domingo, 14 de janeiro de 2007

Ser Injusto é Necessário

Ser Injusto é Necessário
Todos os juízos acerca do valor da vida se desenvolveram ilogicamente e são, por isso, injustos. A impureza do juízo encontra-se, em primeiro lugar, na maneira como o material se apresenta, isto é, muito incompleto; em segundo lugar, na maneira como é efectuada a respectiva soma; e, em terceiro lugar, no facto de cada um dos fragmentos do material ser, por seu lado, resultado de um conhecimento impuro e isto, na verdade, de forma absolutamente necessária. Nenhum conhecimento obtido pela experiência acerca, por exemplo, de uma pessoa, por muito perto que esta esteja de nós, pode ser completo, de modo que nós tenhamos um direito lógico a uma avaliação global da mesma. Todas as estimativas são precipitadas e têm de o ser.
No fim de contas, a medida, com a qual nós medimos, ou seja, o nosso ser, não é uma grandeza invariável; nós temos estados de espírito e oscilações, e, não obstante, deveríamos conhecer-nos a nós próprios como uma medida fixa para podermos avaliar justamente a relação de qualquer coisa connosco. Talvez se conclua de tudo isto que não se deveria julgar de todo em todo; mas se se pudesse sequer viver sem avaliar, sem ter antipatia nem simpatia!... Pois toda a aversão está ligada a uma estimativa, tal qual como toda a inclinação. Uma tendência no sentido de qualquer coisa, ou para longe de qualquer coisa, sem um sentimento de que se quer o proveitoso e se evita o prejudicial, uma tendência sem uma espécie de estimativa diferenciadora quanto ao valor do objectivo não existe no ser humano. Nós somos de antemão seres ilógicos e, por isso, injustos, e podemos reconhecê-lo: esta é uma das maiores e mais insolúveis desarmonias da existência.

Friedrich Nietzsche, in 'Humano, Demasiado Humano'

Eu...

Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo,
Eu torno-me sempre,
mais tarde ou mais cedo,
Aquilo com quem simpatizo,
seja uma pedra ou uma ânsia,
Seja uma flor ou uma idéia abstrata,
Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus.
E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo.
(...)Sim, como sou rei absoluto na minha simpatia,
Basta que ela exista para que tenha razão de ser.
Estreito ao meu peito arfante, num abraço comovido,
(No mesmo abraço comovido)
O homem que dá a camisa ao pobre que desconhece,
O soldado que morre pela pátria sem saber o que é pátria,
E o matricida, o fratricida,
o incestuoso, o violador de crianças,
O ladrão de estradas, o salteador dos mares,
O gatuno de carteiras,
a sombra que espera nas vielas
— Todos são a minha amante predileta pelo menos um momento na vida...."


(Fernando Pessoa)

Fanatismo

Minh’alma, de sonhar-te,
anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!

...E, olhos postos em ti,
digo de rastros:«Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...»

Florbela Espanca

Ai que prazer...

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre,
bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor,
quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia,
a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar,
e o sol, que peca
Só quando,
em vez de criar, seca.
O mais que isto

É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

sábado, 13 de janeiro de 2007

Se tu viesses ver-me...


Se tu viesses ver-me...


Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...


Florbela Espanca

Inconstância

Inconstância


Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à Vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!
Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!
Passei a vida a amar e a esquecer...
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...
E este amor que assim me vai fugindo
ă igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também... nem eu sei quando...



Florbela Espanca

Alma Gémea



Madalena:

"Alma gémea de minha'lma...

flor de luz de minha vida....

Sublime estrela caída...

das belezas da amplidão

Quando eu errava no mundo...

triste e só, no meu caminho,

Chegaste, devagarinho,

E encheste-me o coração....

Vinhas na bênção das flores

Da divina claridade,

Tecer-me a felicidade

Em sorrisos de esplendor!!!

És meu tesouro infinito,

Juro-te eterna aliança,

Porque sou tua esperança,

Como és todo meu amor!

Alma gémea de minha'lma,

Se eu te perder algum dia...

Serei tua escura agonia,

Da saudade nos seus véus...

Se um dia me abandonares,

Luz terna dos meus amores,

Hei de esperar-te, entre as flores

Da claridade dos céus."


-- Emmanuel (psicografado por Chico Xavier)

Para uma tarde de nevoeiro...

Aquí te amo...
Aquí te amo.
En los oscuros pinos se desenreda el viento.
Fosforece la luna sobre las aguas errantes.
Andan días iguales persiguiéndose.

Se desciñe la niebla en danzantes figuras.
Una gaivota de plata se descuelga del ocaso.
A veces uns vela.
Altas, altas estrellas.
O la cruz negra de un barco.Solo.

A veces amanezco, y hasta mi alma está húmeda.
Suena, resuena el mar lejano.
Éste es un puerto.
Aquí te amo.


Pablo Neruda

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

"Quero fazer um elogio ao Amor..."


"Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser 
desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."


Miguel Esteves Cardoso in Expresso