Farol... aquele que me faz saber onde é o meu porto seguro. Chamei-lhe assim pelo meu estranho fascínio por Faróis... Adoro! Quis apenas criar um Diário daquilo que vou fazendo, do que gostava de fazer, da vida... Eu, a minha filha (o meu orgulho). Os meus feitos, o que deixo para fazer... apenas falar, mesmo quando não tenho nada para dizer.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
EU,...
"O quarto é uma selva de neurose.
É ofegante a permanência, é persistente o desejo, vontade tão própria de inovação.
Uma porta e uma janela são a novidade do cativeiro.
Tudo se conhece; um conhecer terrível e espantado que se dilui em interrogação.
Diz-me, ar perplexo de mundo, onde está a fuga?
Tu, visitante assíduo e perspicaz que vagueias por este meu Inferno.
Chega-te à cama minha universal, repouso dos sonhos que sugam o meu inquieto pensamento. Chega-te cá, meu perdido dualismo, que reflectes sem saber quando e porquê, que divagas viajando na essência abstracta e pura de um Não-Ser das coisas e não-coisas.
Não te rias de mim, vida repouso de deuses-demónios; não esperes que eu tombe a teus pés, imagem talhada de Incerteza.Mata-me só hoje, nobre tempestade de silêncio; afaga os gritos escaldantes de um ninguém que não é daqui, que viaja sem destino e com todos os destinos, que...Recôndito raio de sol que penetras com esforço essa janela amedrontada, vem um pouco mais a mim, aquece, ilumina este meu Não-Ser,
dúvida agitada e agitante de ser
Ser sem saber o que é Ser e porque é Ser na imensa frustração que é ser Ser.
Vem tu também, imagem do meu último sonho que será sempre o primeiro; vem e envolve-me na pleura do teu fascínio, tu que tens o poder da deusa profana que me encanta, que me beija o espírito, que me adormece em divino ócio.
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
O ambiente faz mau ambiente

Usar material biodegradável, por exemplo, é excelente para os ecologistas mas péssimo para os arqueólogos de 2170, que hão-de andar a escavar buracos enormes, à procura de uma pitoresca pilha alcalina
Poucos temas geram um ambiente mais desagradável do que a questão do ambiente. Há histéricos de um lado a anunciar o fim do mundo e histéricos do outro a assinalar o histerismo dos primeiros, de forma não menos histérica. O que é curioso é que, normalmente, os histéricos agrupam--se segundo critérios ideológicos. Os histéricos de esquerda defendem que isto é tudo da bicharada e as auto-estradas devem ser construídas por cima das casas das pessoas, porque se as construírem numa planície deserta o barulho dos carros torna-se incomodativo e não deixa o escaravelho da batata nidificar. Os histéricos de direita consideram que isto é tudo nosso e recusam-se a parar de tomar 17 banhos de imersão por dia, mesmo quando estiver cientificamente provado que, se eles não fecharem a torneira da água quente neste preciso momento, para a semana deixa de haver elefantes, tigres e vacas no planeta.
O consenso parece difícil e longínquo, até porque há muitos interesses diferentes em jogo. Usar material biodegradável, por exemplo, é excelente para os ecologistas mas péssimo para os arqueólogos de 2170, que hão-de andar a escavar buracos enormes, à procura de uma pitoresca pilha alcalina ou de uma valiosa embalagem de bifes feita daquela espécie esquisita de esferovite, e não encontrarão nada porque os ambientalistas convenceram toda a gente a usar o pilhão e a fazer a fusão a quente da esferovite, ou lá o que é que eles propõem para isso.
Por outro lado, não deixa de ser irónico que várias espécies estejam em vias de extinção sem que nós nunca lhes tenhamos feito mal directamente (eu, por exemplo, nunca matei uma foca à paulada – nem conto vir a matar, por muito que me digam que é giríssimo), e as moscas estejam cheias de vitalidade quando o ser humano anda há séculos a planear e a executar programas de extermínio só para elas. É ridículo que um urso panda seja mais frágil do que uma barata, e a natureza devia repensar isso. Quando temos a sensação de que o planeta anda a fazer pouco de nós, é mais difícil arranjar vontade de o proteger.
O planeta que vá gozar com a mãe dele.
Suponho que os próprios ecologistas tenham muita dificuldade em controlar-se. Tanto empenho a ir colher ensinamentos à natureza e depois a natureza vai e prega-lhes umas partidas inadmissíveis. Por exemplo, a maior parte dos animais usam peles de animal – coisa que os ecologistas abominam. Os animais chamam-lhe apenas pele, mas não enganam ninguém. Aquilo é mesmo pele de animal. Há dias passei por uma raposa que envergava uma bonita pele de raposa e só por estar com pressa é que não voltei atrás para lhe despejar um spray de tinta no lombo.
O próprio número da VISÃO que o leitor segura nas mãos faz pouco sentido. Parece que o objectivo é ajudar as pessoas a compreender que é preciso ter um comportamento mais responsável em relação ao ambiente. E, no entanto, fartaram-se de deitar árvores abaixo para eu escrever estas baboseiras.