sexta-feira, 7 de março de 2008

Damien Rice - Depressivo ou realista???



O irlandês Damien Rice não é um intérprete esplendoroso. Tem sim, um talento especial para compor temas capazes de nos deixar sem fôlego. Remeto imediatamente para a fantástica “The blower’s daughter”, incluída na banda sonora do já não tão fantástico filme Closer. Aliás, se começámos a ouvir o nome Damien Rice com mais frequência é por culpa deste tema. Passado à parte, Damien Rice editou no passado mês de Novembro o sucessor de 0. E que melhor título que 9, o outro extremo dos algarismos desemparelhados.

Seguindo o folk que mais facilmente caracteriza a música de Damien Rice, 9 é um trabalho semelhante ao seu predecessor. A grande diferença de 0 para 9, é que aqui já não há o factor surpresa que agradavelmente se apoderara nas primeiras audições de 0. Facto é também que já não existe uma “The blower’s daughter” a empurrar-nos para adquirirmos 9, acabamos por fazê-lo simplesmente porque seria redutor limitar o trabalho de Rice a “The blower’s daughter” ainda que o cantautor irlandês dificilmente torne a atingir a perfeição desse tema em trabalhos vindouros.

Considerações acerca do passado à parte, 9 é um trabalho bastante razoável, recheado de temas capazes de nos fazerem companhia numa tarde de Inverno com muita chuva e uma chávena de chocolate quente. Ainda que seja uma imagem demasiado gráfica, ajusta-se na perfeição aos ambientes recriados pelo trabalho de Rice. Experimentem.

“9 crimes” e a voz que se ouve não é a de Damien Rice, mas de Lisa Hannigan, ela própria uma presença habitual no trabalho do compositor irlandês. “9 crimes”, sobre a culpa e recheada de melancolia, com um trecho de piano típico das músicas românticas, mas aqui, esse romantismo é bem mais cru ainda que a melodia não o deixe transparecer na totalidade. A posição em que surge este tema, é arriscada. Abrir com “9 crimes”, seguramente uma das melhores músicas do álbum é imediatamente subir a fasquia e deixar-nos à espera de algo que não surge no imediato. Na verdade, a música seguinte “The animals were gone” fica muitíssimo aquém da primeira, e nem a letra lindíssima que a acompanha a salva de um naufrágio inevitável. Não se fixa na nossa cabeça por um momento, facilmente nos esquecemos que faz parte do alinhamento do álbum.

“Elephant”, que esteve a um passo de se chamar “The blower’s daughter Part 2”, é dotada das melhores interpretações de Damien Rice ao longo de todo o álbum, a par de “9 crimes” e “Me, my yoke and I”, esta última transpirando uma força completamente rock e tornando-se um dos temas mais deliciosos de 9.

Perto do fim, “Grey room” recupera alguma da beleza de “Elephant”, mas sem conseguir prender-nos do mesmo modo. A salvar o desfecho de 9, surge então “Accidental babies”, a verdadeira canção de amor (se assim lhe quisermos chamar) do álbum. Sem exagerar, Damien Rice canta um poeta, que ironicamente, é ele próprio.

A grande mais-valia deste trabalho são os verdadeiros poemas que constituem cada música, aliados à interpretação de Damien Rice que vai mais longe do que por vezes esperamos dele, mas é desolador que num álbum composto por dez músicas, apenas metade mexa de facto com quem está do lado de fora das colunas.




Eu gosto!!!
And soo it is!!!

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