domingo, 14 de janeiro de 2007

Eu...

Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo,
Eu torno-me sempre,
mais tarde ou mais cedo,
Aquilo com quem simpatizo,
seja uma pedra ou uma ânsia,
Seja uma flor ou uma idéia abstrata,
Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus.
E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo.
(...)Sim, como sou rei absoluto na minha simpatia,
Basta que ela exista para que tenha razão de ser.
Estreito ao meu peito arfante, num abraço comovido,
(No mesmo abraço comovido)
O homem que dá a camisa ao pobre que desconhece,
O soldado que morre pela pátria sem saber o que é pátria,
E o matricida, o fratricida,
o incestuoso, o violador de crianças,
O ladrão de estradas, o salteador dos mares,
O gatuno de carteiras,
a sombra que espera nas vielas
— Todos são a minha amante predileta pelo menos um momento na vida...."


(Fernando Pessoa)

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