segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Sobre o MSN

O Viagra dos mais novos Se os telemóveis vieram aproximar as pessoas o MSN Messenger colou-as umas às outras. Estamos literalmente ao colo uns aos outros, apesar de cada um estar sentado em sua casa, na sua escola ou no seu emprego.
Entrar no MSN é como entrar no país das maravilhas. Tudo é encantador. As fotos, os ícones, o grafismo, a rapidez, a simplicidade. Até as pessoas.
Assim que fazemos sign in parece que nos evaporamos para outra dimensão. O nosso corpo mantém-se ali mas tudo o resto já foi. Começamos por sentir diferentes aromas. Desaparece o cheiro a tonner, a tabaco ou a sopa (se estivermos na cantina da universidade). Dentro do Messenger cheira a flores. A rosas, a geriberas, a açucenas. Há quem jure ouvir passarinhos e mesmo violinos.
Assim que a ligação se estabelece e percebemos quem está on-line, somos invadidos por uma incompreensível sensação de bem-estar. Sentimos que pertencemos a um grupo. E que todos estavam ansiosos pela nossa chegada.
O nosso grupo ou network é constituído pelas pessoas que escolhemos. É um clube restrito, e nós somos o porteiro o que nos transmite uma enorme sensação de poder. Somos nós quem decidimos quem entra ou quem sai. Podemos bloquear os chatos, os inconvenientes, os idiotas e os mal vestidos.
Abre-se então uma janela com todos os nomes que escolhemos. O Pedro está cá, a Bela-Anabela não está, a Marta-Maravilha está ao telefone, a Rita está ocupada (deve estar deve). Uns segundos para decidir quem merece a primeira abordagem e lá vamos nós para uma montanha russa de sentimentos.
Os factos são claros. Mais de 60% das conversas no MSN são sobre sedução. Seja pré ou pós, é esse o menu principal. É óbvio que há diálogos sobre os mais variados assuntos. Há já algumas empresas de novas tecnologias que gostam de fazer as entrevistas de emprego via MSN. Nos Estados Unidos alguns psicólogos dão os primeiros passos em consultas via MSN, mas a verdade é que quase tudo gira à volta do sexo. E porquê?
Porque é mais fácil. No MSN as negas, as tampas, as bofetadas não doem. No MSN somos todos mais corajosos, mais atrevidos, mais charmosos. Não é preciso treinar antes no espelho o que vamos dizer. O MSN Messenger é um desinibidor. Uma droga do amor. Ainda por cima barata, não dá ressaca e não faz mal à saúde. O único senão é que é legal. Talvez por isso seja muito mais excitante termos conversas no Messenger onde não é suposto.
No MSN as nossas qualidades multiplicam-se por 10, por 100 ou mesmo por 999. Ficamos com mais piada e mais românticos. O MSN torna-nos melhores. Basta saber escrever algumas palavras e qualquer um se pode tornar o George Clooney do instant messaging.
O Messenger não faz bem só ao ego. Faz bem à saúde. Basta observar alguém que esteja ligado e estar atento às suas reacções. Há muitas gargalhadas, muitos sorrisos confiantes, muitas inspirações, muitos suspiros. Enfim, muita oxigenação.
O Messenger é um acelerador de relações. Um turbo que espevita e permite chegar mais rapidamente onde só chegaríamos passados meses de conversa, de jantares e de idas ao cinema. Poupa-se tempo e dinheiro. Por isso se torna viciante. E por tudo isto é fácil concluir que o MSN é tudo menos produtivo (embora seja reprodutivo) As empresas bloqueiam-no, os chefes proíbem-no mas ele mais parece uma praga de gafanhotos impossível de erradicar.
Não há estudos fiáveis sobre a quebra de produtividade de quem está ligado ao MSN. Ninguém admite passar muitas horas na conversa mas a verdade é que o síndroma do Messenger afecta já todas as hierarquias. E a classe dirigente sabe bem que a sua própria produtividade cai a pique quando estão on-line.
Para o bem e para o mal, a verdade é que o Messenger veio para ficar. O amor à primeira vista está a ser trocado pelo amor à primeira mensagem e as relações duram até que o Messenger nos separe.
As novas tecnologias estão a redefinir as relações sociais da juventude actual. Ao oferecerem comunicações simples, rápidas e gratuitas permitem a formação e evolução de novas redes sociais. E é impossível prever todas as alterações comportamentais que elas vão provocar.(agora desculpem mas estão a chamar-me no Messenger).


by:Nuno Presa Cardoso

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